terça-feira, 31 de julho de 2007

Guimarães, Toquinho e os outros na colcha de retalhos


Fulano compôs uma canção. Não uma canção qualquer, mas dessas que pretendem condensar o mundo num só grito. Conseguiu o inatingível e se orgulhou muito de sua obra-prima, até que a realidade e os fatos berraram num tom acima: problemas orçamentários! Até então, não se havia dado conta de que o verbo consome muita verba, e que cada arranjo, cada nota, cada acorde eram completamente discordes com sua conta bancária; isso sem falar na rima! Aquela rima tão bem polida, não teve mais remédio que cortá-la. Por economia, se viu obrigado a espremer introdução, refrães e estrofes inteiras, reduzindo-os a um pequeno trecho, que se repetia à exaustão: ‘Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo’. E viu que, apesar de tudo, ainda era bom. As notas ecoavam saudosas de seu colorido, mas tinha conseguido manter um branco-e-preto vívido que ressoava ao longe, a perder-se e misturar-se com outras ondas.

Do outro lado da rua, essas notas alcançavam o Cidadão Comum sentado em sua varanda, meditando como cada dia. E, como cada dia, se sentia compreendido, porque a melodia lhe apaziguava o ânimo com força de resposta, que em realidade era mais que uma simples resposta, era a Resposta por excelência, destas que antecedem à pergunta mesma. Porém, essa certeza que lhe chegava tão forte com a primeira luz da manhã, se desvanecia com o passar das horas. Ao entardecer, outra vez a sensação de que vivia o dia, e não o sol, a noite, e não a lua. De madrugada, como de costume, a pergunta voltava a sua condição inevitável: que acontece quando nada acontece?

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Novinho em folha

No princípio era o Verbo. Até que o verbo descambou para a verborréia e hoje em dia praticamente não há cidadão que se preze que não tenha seu BlogEspaço; incluso os que não se prezam nada; ou os que se prezam demais; já era hora de que também me achegasse.

Quem terá sido essa criatura malvada que me inculcou tamanho respeito por tudo que concerne à linguagem, mais precisamente à escrita, a ponto de não me permitir adentrar esse terreno, como se fosse o santuário da expressão humana? De onde esse impulso que é quase um pedido de desculpas por tentar cruzar a cortina de linho? Que acontece se me atrevo? Um raio fulminante?

Seja como for, hoje acordei um tanto quanto subversiva. É mais: prometo ser subversiva. Depositarei aqui todos os clichês que conheço, com a tremenda ousadia de quem publica uma descuberta por primeira vez, como se ainda existisse verdade que já não tivesse sido dita ou mentira que já não tivesse sido eloqüentemente calada. Vou parafrasear tudo que me parecer adequado e conveniente. Penso também em plagiar, plagiar muito, vírgula a vírgula, acorde por acorde, cor por cor… e citar no fim o autor apenas se me lembrar. Ousarei apelar a nomes consagrados, e, por muito blasfemar, correr o risco de que se remexam em suas tumbas ou em suas cadeiras almofadadas gemendo em bom som “Não foi isso o que eu disse! Por que não me deixa em paz, sua impertinente!”

Tão subversiva a ponto de me permitir algumas censuras de vez em quando, sempre que se fizerem necessárias.

Ainda não sei a que vim. Mas vim, e o certo é que já estou semi-à-vontade por aqui. E, repetindo um carinha aí… que seja infinito enquanto dure.